Exposição sobre Pierre Cardin é oportunidade única de conhecer seu trabalho pioneiro.
Existem mitos que nasceram para ocupar um lugar determinado e específico em nossa vida - filmes maravilhosos que não queremos rever, a praia deserta que hoje abriga condomínios, o primeiro amor - e existe Pierre Cardin.
Impossível não aproveitar a “semana Cardin” – marcada por diversos eventos em torno do estilista que esteve em São Paulo na semana passada – para render meu tributo especial a este que foi um dos maiores criadores do século 20 em todas as áreas, não só na moda.
Na inauguração de sua exposição histórica, aberta ao público no shopping Iguatemi, e que vai até 29 de maio, o que mais se ouvia era a frase: “Ele foi o primeiro...”. De fato, o pioneirismo e a ousadia são a marca registrada deste filho de franceses nascido na Itália, em 1926.
O pequeno Pierre desde muito cedo manifestou ter pendores artísticos, desenhava vestidos de boneca para as amiguinhas e carregava a expectativa dos pais de que se tornasse arquiteto.
A arquitetura é seu traço mais fidedigno, mas o fato é que Cardin não se tornou um projetista de edifícios, mas um arquiteto de vestimentas.
Iniciado no mundo da moda pelo ateliê de Elsa Schiaparelli, onde teve contato direto com o grupo surrealista, chegou a desenhar o figurino do filme “A Bela e a Fera”, de Jean Cocteau. E, ao que tudo indica, encontrou aí solo fértil para buscar suas referências dentro de si mesmo, em um mundo inconsciente, mas visionário. “As roupas que prefiro são aquelas que invento para uma vida que não existe ainda, para o mundo de amanhã”, dizia Cardin.
Se nos anos 50 suas incursões pelo mundo das formas geométricas eram bastante tímidas, nos plásticos 60 foram recebidas de braços abertos e ele aproveitou como ninguém a palavra “novo”. Da simplicidade das linhas aos comprimentos minúsculos, passando pela tecnologia de feitio, criou, por exemplo, o “Cardine” – tecido moldável com o calor, que permitia fazer roupas sem costuras –, até a maximização de joias e assessórios, incluindo saias e vestidos vazados para serem usados sobre uma malha inteiriça.
Depois, entrou com galhardia nos anos 70 impulsionando a moda masculina (dizem que foi o primeiro a colocar homens na passarela) e trajes unissex. Ouvi também que Pierre Cardin foi o primeiro (viu só?) a criar uma linha de utensílios para casa assinados.
O tino comercial, raríssimo para um estilista, fez com que explorasse a palavra “licenciamento” à exaustão, o que quase rendeu um efeito Big-Bang em seu prestígio, tamanha descaracterização dos produtos que levavam seu nome - de perfumes a cuecas.
Um mito, uma lenda viva. Não deixe de ver a exposição. Uma oportunidade de ouro.
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